As histórias policiais são um dos gêneros literários mais famosos e com mais fãs espalhados pelo mundo.
Seus personagens são icônicos e muitos deles, como Sherlock Holmes e Dr. Watson, são lembrados com carinho por muitos leitores e espectadores.
Nesse ínterim, ogênero também conseguiu vencer barreiras, estendendo-se para o cinema e televisão e subdividindo-se em diversos subgêneros, como o noir e o suspense.
Mas por que gostamos tanto de acompanhar histórias policiais?

Folhetins: as novelas do século XIX
A primeira das razões é o formato em que elas eram publicadas no século XIX, logo no início da estruturação e popularização do gênero: o folhetim.
Os folhetins eram histórias publicadas em jornais e revistas capítulo por capítulo, conservando um determinado público e deixando a imaginação do leitor em ardor pelo que aconteceria em seguida.
Era comum o uso de cliffhangers ao final de cada um desses capítulos, ganchos que fariam com o que o leitor não conseguisse não ler o próximo.
Além disso, os folhetins faziam parte dos jornais da época como um suplemento, o que aumentou muito o público das histórias.
Podemos comparar os folhetins com as telenovelas atuais no quesito apelo popular e narrativas que respondem ao público.
Inclusive, grandes obras da literatura mundial, que hoje são clássicos, foram publicados pela primeira vez como folhetins.
É graças ao formato que figuras como Sir Arthur Conan Doyle e Edgar Allan Poe ficaram conhecidas, ajudando a consolidar o romance policial como um gênero literário.

A dualidade moral como tema
P.D. James, a dama do romance policial inglês, acredita que o fator que tornou as histórias policiais populares é a dualidade moral.
Em seu livro Segredos do Romance Policial, ela diz que grande parte das histórias de detetive segue a receita do romance inglês (sendo os autores ingleses grandes partidários da lei e defensores da policia), então a dualidade moral é sempre uma representação forte.
Nela, o crime, a violência e o caos são sempre uma grande aberração e deve ser aniquilada pela figura que representa a ordem, nesse caso o detetive.
É uma guerra de astúcia e de racionalidade, o clássico bem contra o mal.
P.D. James ainda diz que gostar de histórias policiais está atrelado ao nosso psicológico no que se refere ao senso de justiça e empatia humana.
É muito raro um romance desse gênero que não tenha o assassinato como crime principal, pois, por mais cruel que pareça, a autora diz que é muito mais interessante ler sobre um assassino do que sobre qualquer trama facilmente reparável.
O assassinato é um crime sem reparação, não é algo passível de reversão. Um assassinato, ainda mais por razões que não estejam claras, choca e provoca a empatia das pessoas.

O mistério e a solução do crime
A terceira razão para gostarmos tanto de histórias policiais está no mistério em si e, enfim, na resolução do crime.
Para P.D. James, a grande parte da atração do público pelo gênero está na satisfação de solucionar o mistério proposto e na recompensa de descobrir a dissolução de toda a trama.
Ou seja, quem cometeu o crime e seus motivos.
Frequentemente, as narrativas policiais têm seu ápice em uma cena bastante emblemática: a prisão do culpado. Aliás, de acordo com P.D. James, levar o criminoso à justiça é o maior sucesso da história policial.
A sensação de justiça sendo feita pode ser classificada, em suma, como um fator que tranquiliza o nosso senso de justiça e parece aliviar a tensão causada pelo crime.
Umberto Eco disse que nós lemos romances porque eles nos dão uma sensação confortável de viver num mundo onde a noção de verdade é indiscutível, embora o mundo real seja um lugar mais traiçoeiro.
Por isso, sentimos uma sensação de frustração quando bem não vence o mal em certos livros e filmes, independente de serem narrativas policiais ou não.
Nós prezamos pela justiça na ficção porque ela nem sempre acontece na vida real. É recompensador, na verdade.
Este artigo é parte de um estudo sobre literatura policial e a representação de museus no gênero. Para conferir o conteúdo completo, acesse este link.