Immortal, música presente no álbum Froot, de 2015, da MARINA, é uma reflexão sobre as estratégias que utilizamos para continuar vivos, o papel da memória nessa equação e como só o amor é capaz de nos fazer imortais.
Se tem algo que experimentamos igualmente enquanto seres humanos é o medo da morte e o fascínio por ela. Não sabemos por que estamos vivos e não sabemos para onde vamos quando deixarmos de existir.
A única coisa da qual temos certeza é que precisamos aproveitar os momentos terrenos com quem amamos.
A relação do ser humano com a morte
A morte é um fenômeno que, ao mesmo tempo em que fascina o ser humano, nos deixa com medo. É algo que sabemos que vai acontecer, mas que não sabemos para onde nos leva.
O medo da morte é o medo do desconhecido. E o fascínio pela morte é o fascínio pelo desconhecido.
Falar sobre a morte nos deixa desconfortáveis não apenas pelo fascínio e pelo medo, mas porque nos faz encarar o fato de que somos finitos.
Nós não vamos viver para sempre, não vamos conseguir fazer tudo o que queremos em uma vida só, e a ideia de estarmos perdendo experiências e pessoas nos deixa ansiosos.
De repente, não queremos mais falar sobre o fim, não queremos mais presenciar o fim e evitamos pensar sobre o dia em que não estaremos mais aqui.
De repente, também, nós inventamos diversas maneiras de continuar vivos, seja através de grandes obras, seja através dos nossos filhos e netos, seja escrevendo o nosso nome na História.
Tudo isso porque nós sabemos que nosso tempo na Terra é curto, então enquanto sociedade, nós criamos estratégias para continuar vivendo.
A composição, o lançamento e o videoclipe de Immortal
Foi depois de visitar um memorial de guerra na Polônia que Marina começou a escrever Immortal.
Ela disse que a música fala sobre a questão universal de você deixar sua marca e como ela é importante para preservar sua memória.
Immortal foi lançada como single promocional em 01 de janeiro de 2015, sendo que o videoclipe foi liberado no YouTube no dia 31 de dezembro de 2014.
Também é interessante falarmos sobre o videoclipe. O que eu entendo desse clipe é a perspectiva de que toda sua vida passa em frente aos seus olhos quando você morre.
Essa seria a personagem que a Marina interpreta, talvez até sendo ela mesma, revendo os momentos mais importantes da vida dela, aqueles que vão continuar vivendo depois que ela se for.
E o que Immortal tem a ver com o filme Coco
Um conceito que está bastante presente na música é o de que morremos duas vezes e essa frase pode ser atribuída ao artista inglês, Banksy.
A frase que ele disse, segundo o site Pensador, é “Dizem que você morre duas vezes. Uma vez, quando você pára de respirar e uma segunda vez, um pouco mais tarde, quando alguém diz seu nome pela última vez.”
Ou seja, você morre quando sua vida se esvai e você morre quando a sua lembrança, a memória que as pessoas têm de você, se esvai também.
E isso me fez lembrar do filme Viva, a Vida é uma Festa, da Pixar.
O filme foi lançado em 2017 e trata justamente sobre a memória e a morte, como nós lidamos com isso enquanto coletivo e como existem culturas que se adaptaram a entender a morte de maneira mais ampla do que pelo medo ou fascínio.
Na história do filme, nós acompanhamos Miguel, um menino de 12 anos, que vem de uma família que abomina a música. Porém, Miguel ama música e quer provar para a família que ele tem talento.
No Dia de Los Muertos, Miguel acaba indo parar no mundo dos mortos.
Lá, ele quer encontrar o seu tataravô, que ele acredita ser o cantor famoso Ernesto De La Cruz. Acontece que, E AQUI VAI SPOILER, o avô dele não é o Ernesto, mas um antigo parceiro de música de Ernesto, chamado Hector, que foi assassinado por Ernesto.
E para piorar a situação, a memória de Hector está desaparecendo do mundo dos mortos porque a última pessoa que se lembra dele, sua filha Coco, bisavó de Miguel, tem Alzheimer.
Viva – a vida é uma festa é uma história que gira em torno da temática de lembranças, memórias e morte e que apresenta para gente as duas mortes da citação do Banksy.
Primeiro, o filme nos mostra a morte real, a primeira delas, quando Hector é assassinado e não consegue voltar para sua filha, e a segunda quando Coco, a última pessoa viva a lembrar de Hector, está perdendo suas lembranças para uma doença.
Quando encontra Hector no mundo dos mortos, e entende que ele está desaparecendo, Miguel torna sua missão de vida fazer com que a memória de seu tataravô não seja esquecida.
Miguel quer garantir que ele continue vivendo através de suas lembranças e das histórias que ele vai contar, mas a única maneira de ele conseguir fazer isso é forçando Coco a se lembrar.
E depois de muitas desventuras, ele consegue. Miguel consegue acessar as lembranças quase perdidas de Coco através da música que Hector escreveu para ela.
É a emoção daquela lembrança que faz Coco se lembrar de seu pai, que faz ela contar histórias sobre ele para toda a família e que garante que a memória de Hector não será esquecida.
Ou seja, o esforço de Miguel e Coco em Viva – a vida é uma festa está em evitar que Hector morra pela segunda vez.
Porém, é preciso falar sobre o ponto no qual as duas histórias, a música da Marina e o filme da Pixar, diferem: para Marina, o importante não é evitar morrer, mas viver o suficiente para deixar boas memórias para os seus entes queridos.
Enquanto a impressão que Viva – a vida é uma festa passa é a de ir até extremos para não deixar um ente querido morrer.
O problema dessa relação entre memória e morte, e das duas mortes, não é morrer.
O problema é ter medo do que vem depois e é querer continuar indo a extremos para continuar vivo, sendo que o mais importante não é a eternidade.
O mais importante é o tempo passado com quem a gente ama.
Não deixe de conferir o vídeo sobre Immortal e Viva – a vida é uma festa no canal!