Em Starring Role, encontramos Electra Heart imersa em um relacionamento novamente. Ao que tudo indica, ela e o marido reataram o casamento, mas Electra não se mostra tão confortável com esse novo começo.
O que mais nos chama atenção em Starring Role é o humor com o qual encontramos nossa protagonista.
Electra parece ter aprendido uma lição com o baque recebido em Lies porque agora soa mais fria e calculista, como se estivesse começando a enxergar uma nova realidade.
Electra parece ter entendido que os relacionamentos precisam ser igualitários. E isso significa que nem sempre ela precisará se colocar de lado pelo bem do outro e nem sempre precisará ser perfeita.
Aqui, encontramos uma face bastante cruel do relacionamento amoroso.
Electra e seu marido vivem uma relação fria e distante, onde nenhum dos dois demonstra carinho ou interesse. Mas continuam juntos por convicção e teimosia. Electra sabe que esse homem não a ama e que nunca amará.
Ela diz que é difícil conversar e abraçar, que ele só se abre quando eles estão na cama e que isso a deixa em depressão, mas ela não sai do lado dele.
Electra prefere continuar com aquela relação de mentira do que abrir mão de um casamento novamente e quebrar sua fantasia.
Procurando o protagonismo em Starring Role
O refrão de Starring Role é bastante importante para o relacionamento atual e nos dá pistas do futuro dos arquétipos na vida de Electra:
“It almost feels like a joke
to play a part
when you are not the starring role
in someone else’s heart”
Em simples quatro linhas, podemos analisar diversos aspectos da vida de Electra. Primeiro, na dinâmica do casamento: Electra está cansada de não ser a protagonista.
Ela quer que o marido a ame, quer ser a primeira no coração dele, mas não consegue e isso a frustra.
Também temos uma alusão ao fato de que Electra está atuando no casamento e na vida dela. A mulher que deita ao lado do marido todas as noites é uma personagem, alguém que só aceita esse tipo de relação por não querer ficar sozinha.
E, mesmo atuando como a esposa perfeita, Electra ainda não tem o protagonismo no coração do marido.
Electra Heart está amando
E uma pista para o motivo de Electra não desistir desse casamento é que ela está amando. Claramente, esse relacionamento é fruto do idealismo dela e representa muito mais do que amor.
Porém, em determinado momento, Electra diz:
“I never sent for love
I never had a heart to mend
because before the start began
I always saw the end
Yeah, I wait for you to open up
to give yourself to me
But nothing’s ever gonna give
I’ll never set you free
Yeah, I’ll never set you free”
Ela se refere a todos os relacionamentos anteriores que sempre acabavam antes mesmo de começar, mas esse é diferente. Parece haver muito mais em jogo aqui, portanto ela diz que vai esperar o marido se abrir para ela.
Electra não está satisfeita, mas não está pronta para deixar esse homem ir. E isso é Electra Heart amando da maneira como aprendeu: idealizando algo e lutando até o fim por sua “felicidade”.
O Complexo de Electra de Carl Jung
Em Starring Role, existe a única citação à família de Electra que encontraremos em toda a história:
“You’re like my dad
you’d get on well
I send my best regards from hell”
No século XIX, o pai da psicanálise, Sigmund Freud, cunhou uma teoria que até hoje gera polêmica.
O Complexo de Édipo afirma que o menino vê no pai uma imagem semelhante a sua (já que eles têm os mesmos genitais) e sente ciúmes do pai por isso.
Assim, o complexo de Édipo diz que os meninos, ao tomar consciência que seus corpos masculinos, questionam a autoridade dos pais e querem ocupar seus lugares.
Freud não previu a versão feminina dessa teoria por achar que não fazia sentido.
Carl Jung, portanto, cunhou o Complexo de Electra, que fala exatamente a mesma coisa, mas em relação às meninas: elas sentiriam ciúmes da posição da mãe e quereriam tudo o que ela tem, incluindo a atenção do pai.
Não pode ser a toa que Marina nomeou sua personagem de Electra e escreveu uma linha em que citava o pai, quando as músicas mal citam a vida dessa personagem antes dos arquétipos.
O interessante é que há quem acredite que mulheres buscam um companheiro que espelhe os seus pais, mesmo que inconscientemente.
Em Starring Role, Electra diz que seu marido é parecido com seu pai e que eles se dariam bem e isso nos dá o que pensar sobre o tipo de estrutura familiar que a Electra teve.
Será que seus pais se amavam? Seu pai batia na mãe? Será que ele não abusava da filha? Os pais dela tinham uma relação tão horrível quanto a que ela tem com seu marido?